quinta-feira, 14 de junho de 2012

A D.,



     Gosto das embarcações porque não deixam rastros. As marcas dos caminhos que trilham são apagadas no momento em que são traçadas, de uma forma que não nos permite voltar aos lugares que não paramos por desatenção.
     Minha vontade é descaminhar e me afogar nessa incerteza de dar passos, todavia me perco como um bom contrabandista. Estradas que criei para os meus pés. As bifurcações continuam aparecendo sem placas, sem avisos, diante dos meus olhos que não dão conta.


Que espécie de acordos tens travado com a vida?
O que buscas?
Por onde andas?

     Por aqui Junho resolveu deflagrar a lei da chuva, que, se de um lado derruba casas, doutro faz brilhar o asfalto. Cultivo uma nada escondida preferência pelo cinza que deixa as pessoas elegantes e úmidas. Gosto tanto que chego a ser inocente: Por exemplo, me é impensável a ideia de pessoas que, no inverno, apelem à traição, licitação de emergência da alma. Me corrija se estiver errado. A culpa sim, medida provisória do amor, veste bem a estação dos lençóis divididos.
     No mais, teimo em descobrir coisas que não quero, a cruz que nos é comum.
Agora vou. É tarde. Andar é questão de equilíbrio, amigo, o que faz dos corredores estreitos lugares agradáveis. Paredes que se espremem para oferecer apoio ao corpo, que possui a estranha necessidade de revisitar a cozinha, na qual as panelas ainda tentam, desesperadas, melhorar as coisas.

Beijos amargos de café,

J.